PARANÁ REGISTRA 131 ACIDENTES DE TRABALHO POR DIA
A cada 60 minutos, cinco acidentes de trabalho ocorrem no Paraná. O cálculo foi feito com base nos dados de 2015 publicados no Anuário Estatístico da Previdência Social. Mais de 612 mil acidentes foram registrados em todo o País naquele ano. O Paraná ficou na quarta posição em número de ocorrências, com 47.337, perdendo apenas para São Paulo (207.703), Minas Gerais (62.566) e Rio Grande do Sul (52.030). Nesta quinta (27) é celebrado o Dia Nacional de Prevenção de Acidentes de trabalho.
De acordo com o presidente da Associação Paranaense de Medicina do Trabalho, Guilherme Murta, o governo federal gastou quase R$ 19 milhões com o pagamento de benefícios aos trabalhadores acidentados no Paraná em 2015. No País, o montante chegou a R$ 290 milhões. “Nos últimos cinco anos, 3,5 milhões de acidentes de trabalho foram registrados no Brasil. Os mais de 13 mil óbitos nesse período custaram R$ 22 bilhões aos cofres públicos. O custo é referente ao pagamento de auxílio-doença, auxílio-acidente, aposentadoria por invalidez e outros valores relacionados. Isso repercute diretamente na vida do acidentado e dos colegas de trabalho, além de ter influência no clima laboral e na produtividade. Os custos indiretos são imensuráveis”, apontou.
Entre as principais lesões causadas no ambiente de trabalho estão traumas em mãos, antebraços e dedos; tendinites; lesões na coluna e nos punhos. “A gente percebe que, no geral, os acidentes têm muita relação com trabalhos repetitivos e com carga de peso muito elevada em membros superiores. Porém, a gente tem observado nos últimos anos uma tendência de aumento das notificações de transtornos mentais, não só no ambiente de trabalho. Se o transtorno mental tiver uma correlação com o trabalho, ele pode ser considerado acidente de trabalho”, explicou. A chamada Síndrome de Burnout, relacionada ao esgotamento profissional, está entre as doenças constatadas no ambiente de trabalho.
Conforme dados do Anuário Estatístico da Previdência Social, em 2015 mais de 16,3 mil trabalhadores do País sofreram acidentes classificados como “reações ao estresse grave e transtornos de adaptação”, “transtornos ansiosos” e “episódios depressivos”. Em 2014, foram 16,1 mil trabalhadores cadastrados nas mesmas classificações. No entanto, muitas ocorrências que resultam em lesões físicas ou comprometem a saúde mental nem chegam a ser registradas oficialmente. Quadros de depressão ou transtornos de ansiedade, segundo o presidente da associação, precisam ser analisados com cautela. Nessas situações, apenas se for comprovada que a rotina profissional desencadeou a nova crise é possível caracterizar o acidente de trabalho.
Assaltos a agências bancárias, caixas eletrônicos, carros-fortes e lotéricas fazem parte da rotina acompanhada pelo Sindicato dos Vigilantes de Curitiba e Região. A entidade já contabilizou mais de 20 ocorrências de assalto e tentativas de assalto neste ano em todo o Paraná. Conforme o presidente do sindicato, que também é representante da Federação dos Vigilantes do Estado do Paraná, João Soares, os trabalhadores da categoria desenvolvem síndrome do pânico e diversas outras doenças em razão das ocorrências. “Não temos dados estatísticos, mas temos vários casos. Geralmente, o trabalhador fica sem assistência nenhuma depois dos assaltos. Ele recebe alguns dias de folga e é colocado em outro posto. Quando ele é afastado por causa das condições psicológicas, o retorno é muito difícil”, destacou Soares.
Vigilante há 25 anos, um trabalhador que preferiu não se identificar já esteve em uma troca de tiros com assaltantes. “Aconteceu na madrugada. Um rapaz chegou em um carro e veio com um papel para que alguém fosse até a portaria. Quando ele viu que a gente estava posicionado, ele fugiu e o pessoal do segundo carro atirou”, contou. Segundo ele, após o tiroteio, um dos vigilantes pediu demissão. “Cada um reagiu de um jeito. Uns riram da situação, outros tiveram dor de barriga, teve um que entrou em pânico e teve um colega que pediu a conta. Eu não cheguei a me afastar do trabalho e também não tive acompanhamento médico”, relatou. Durante as mais de duas décadas na função, o vigilante passou por pelo menos cinco assaltos.
Para o vice-presidente da Associação Paranaense de Psiquiatria (Região Norte), Julio Cesar Dutra, o acompanhamento psicológico é essencial. Ele já atendeu dezenas de pacientes que tiveram a saúde mental comprometida após ocorrências traumáticas no trabalho. Um deles trabalhava no caixa de uma empresa e foi assaltado à mão armada. “Não fizeram nada fisicamente com ele, só pediram todo o dinheiro e saíram correndo. Ele entrou em pânico, quase desmaiou e teve que ser levado ao hospital”, relatou. Após um mês afastado, o profissional pediu para voltar às atividades e, 60 dias depois, foi assaltado novamente na mesma agência. “Levaram as pessoas para a frente da agência, deitaram todos no chão e esse paciente, com toda a calma, conseguiu tranquilizar o pessoal. Dessa vez, ele não precisou ficar afastado, mas um colega de trabalho sim. Esse colega ainda está em tratamento”, comentou.
Sofrimento em silêncio
Cobrança excessiva de metas, conflitos com colegas e rotinas exaustivas deterioram a saúde emocional do trabalhador, segundo o vice-presidente da Associação Paranaense de Psiquiatria (Região Norte), Julio Cesar Dutra. O sofrimento silencioso, conforme ele, está entre os principais motivos de afastamento do emprego, mesmo nos casos não considerados como acidentes de trabalho.
“Atualmente, por causa dos fatores econômicos, há o medo de perder o emprego. O trabalhador tem que produzir muito para tentar se destacar e não ser desligado. A tecnologia também nos faz tentar trabalhar online 24 horas por dia e isso vai desgastando completamente as pessoas e faz com que surjam essas doenças. Temos que lembrar que o quadro depressivo ou outras doenças estão na genética das pessoas, mas muitas delas vão desenvolver esses quadros a partir de um conflito dentro do trabalho ou do cotidiano”, afirmou o psiquiatra e médico do trabalho.
Conforme Dutra, as empresas precisam criar um ambiente de trabalho mais saudável e buscar a qualidade de vida dos colaboradores. “É preciso incentivar a prática de atividades físicas e de hábitos alimentares saudáveis, tentar conhecer um pouco melhor os colaboradores e saber das dificuldades enfrentadas por eles também fora do trabalho. É preciso saber visualizar o colega de trabalho como ser humano”, ressaltou.(V. C.)
Viviani Costa – Reportagem Local
(Fonte: Folha de Londrina)