“OS TOLOS, OS CHATOS E OS REALISTAS ESPERANÇOSOS”, POR HÉLIO GOMES COELHO JÚNIOR
O artigo “Os tolos, os chatos e os realistas esperançosos”, elaborado pelo advogado Hélio Gomes Coelho Junior, sócio fundador do escritório Gomes Coelho e Bordin, foi publicado na edição de agosto da Revista Federação Nacional das Empresas de Segurança e Transporte de Valores (Fenavist).
Confira aqui o artigo na íntegra (página 20).
.
Os tolos, os chatos e os realistas esperançosos.
.
O título do pequeno escrito lembra a saborosa frase de Ariano Suassuna, escritor do livro Auto da Compadecida, que do papel foi ao filme, com ótimas interpretações de Matheus Nachtergaele, Selton Mello e Denise Fraga. Sim, predizia Ariano: “O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso”.
Estamos prestes a completar seis meses de “calamidade pública”, derivada da “pandemia”, doença nova, sem imunização e que se alastrou por cinco dos seis continentes, pois não se tem notícia de ter alcançado a Antártida, isolada por vocação.
A “gripe” ceifou uma centena de milhar de vidas e contaminou mais de duas unidades de milhão de brasileiros. O Presidente da República agiu no seu melhor estilo, ao negacear a ciência e ao experimentar três gestores da saúde, o último deles sem currículo para o manejo da área.
O Brasil estava pronto “para voar de novo”, segundo nos contava Paulo Guedes, no já longínquo março último, quando a iniciativa privada estava inerte e o norte indicava a recessão, senão a depressão.
Conta-se em milhares os negócios fechados e em milhões os desempregados e informais, que o Ministério da Economia fez questão de lembrar que o Brasil sequer os conhecia. Agronegócio, e-commerce, alguns serviços, deliveries, motoboys e ciclistas entregadores salvando a “lavoura”. Indústria, comércio, transportes e muitos serviços, dançando no mesmo lugar, dois para lá e dois para cá. O PIB encolherá e inflação também, na conjugação da falta de dinâmica e ausência de consumo. O brasileiro empobrece e empobrecerá.
Não fosse pouco, ainda houve quem dissesse que o país estava por romper a normalidade democrática, pelo esgarçamento da relação entre os Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). Qual quê, as instituições funcionam, todas aquém do desejado, todavia, mas a sociedade não consentirá, pelo que se tem até agora, com tal projeto. Ruim assim, pior sem o assim.
Urnas à vista no fim do ano, para os mais de 5 mil municípios e seus legislativos. Um bom começo. Que fique para trás a má ideia de “estender mandatos”.
E 2022 está logo ali. Os cidadãos já percebem que a virada de 2018 foi necessária, mas há mais por fazer, sempre via voto livre e consciente. A polaridade precisará ser desafiada, ante a constatação de que a política, dita nova e dita velha, eram siamesas; senão bloco único.
Os parágrafos acima mixam tolices e chatices da realidade sem retoques. Mas não toldam a confiança em coisa boa dos cidadãos de bem.
Que venha a reforma tributária, cientes todos que o nosso “sistema” é tido como um dos mais complexos do planeta e seguramente o que mais gera litigiosidade na relação Estado -contribuinte. Precisamos que ela traga simplificação e não aumento de carga.
Dados indicam que o contencioso orbita para além de três trilhões de reais. A proposta enviada pelo Executivo, sabidamente contida, irá encontrar as que tramitam na Câmara e no Senado. Que haja método, inteligência e vontade para que ela seja concretizada.
Que venha a reforma administrativa, cientes todos de que a nossa “burocracia” é intolerável à sociedade, cumprindo ao Executivo propor, ainda que em ano eleitoral, e ao Congresso elaborar lei e emendar a Constituição, para que se desmontem os privilégios das corporações de todos os matizes no Executivo, no Legislativo e no Judiciário.
Direto ao ponto: a pandemia não trouxe aos “servidores” (e todos devem assim ser vistos) da “coisa pública” uma só gota, grama ou centavo de sacrifício. Intolerável que assim seja e continue. Inadmissível que o “público” pratique vencimentos e benefícios em muito – muito mesmo – superiores aos do “privado” e, de inhapa, conceda estabilidade irrestrita, a ponto tal que, mesmo na bancarrota, ganhos e garantia sejam intocáveis.
Cuidemos de agir com firmeza em prol dos legítimos interesses. Sigamos realistas esperançosos, sem a tolice dos otimistas ou a chatice dos pessimistas.
.
Hélio Gomes Coelho Júnior é advogado trabalhista de empresas e entidades sindicais patronais e professor de Direito do Trabalho na PUC-PR.