Quase 55% dos que têm empresa aberta buscam vínculo formal
O estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) feito com base nos dados da Sondagem do Mercado de Trabalho mostra que, entre os autônomos que tinham CNPJ – ou seja, estavam formalizados –, 54,6% declararam vontade de ter carteira assinada. Essa fatia que almeja o vínculo da carteira subia a 72,1% entre os autônomos atuando na informalidade, sem CNPJ.
“Principalmente de 2023 para cá, quando se deu uma melhora mais forte do trabalho formal, a gente vê a economia e o mercado de trabalho reagindo. Com essa possibilidade de emprego formal, esse grupo com certeza acaba migrando para esse tipo de trabalho”, afirma Rodolpho Tobler, coordenador das Sondagens Empresariais e de Indicadores de Mercado de Trabalho do Ibre/FGV.
O total de trabalhadores com carteira assinada no setor privado alcançou o recorde de 38,326 milhões de pessoas no trimestre encerrado em maio, 330 mil a mais do que no trimestre anterior, apontou a última divulgação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O contingente de ocupados atuando por conta própria também cresceu, 40 mil a mais em um trimestre, para um total de 25,473 milhões de pessoas.
Por outro lado, algumas categorias de emprego menos atraentes perderam trabalhadores: 100 mil pessoas deixaram o trabalho doméstico sem carteira assinada, e o contingente de trabalhadores familiares auxiliares encolheu em 84 mil pessoas. O número de trabalhadores por conta própria com CNPJ também diminuiu, menos 33 mil em um trimestre, e o de empregadores com CNPJ encolheu em 52 mil.
“Geralmente, o trabalho formal com carteira tem uma renda maior, mas, além disso, tem um pouco mais de estabilidade. Você tem uma previsibilidade de renda. Porque os trabalhadores por conta própria têm dificuldade de prever sua renda no próximo mês e, mesmo quando preveem, às vezes a renda varia muito”, diz Tobler.
Renda
Segundo ele, há realmente alguns fatores que o trabalho com carteira traz como uma possibilidade que atrai essas pessoas, especialmente aquelas que estão no trabalho informal, com uma renda mais baixa.
Com a taxa de desemprego em 7,1%, menor nível em quase uma década, acompanhada de um aumento consistente na geração de vagas formais, a renda média do trabalho tem crescido continuamente, aproximando-se de picos históricos. Desta vez, no entanto, há uma melhora disseminada, derivada da maior qualidade do emprego, aponta Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE.
O rendimento médio dos trabalhadores ocupados teve uma alta real de 1% em um trimestre, para R$ 3.181 no trimestre terminado em maio de 2024, maior patamar para esse período do ano de toda a série histórica da Pnad Contínua, iniciada em 2012.
O nível atual se assemelha ao do pico alcançado em 2020, em meio à pandemia de covid-19, quando a crise reduziu drasticamente o número de vagas informais e de menores rendimentos, fazendo o rendimento médio subir. A elevação atual na renda do trabalho é totalmente distinta da que ocorreu na crise sanitária, porque agora há mais pessoas ganhando maiores salários.
Reajustes
Para o economista Bruno Imaizumi, há alguns fatores por trás dessa alta na renda do trabalhador, como reajustes acima da inflação tanto no setor privado quanto no setor público, maior poder de barganha dos trabalhadores em meio à elevada demanda por mão de obra e ainda um aumento na escolarização da força de trabalho.
“As pessoas que estão entrando no mercado de trabalho hoje tendem a entrar mais escolarizadas do que as pessoas que estão saindo, e isso pode ter algum tipo de ganho na renda”, afirmou Imaizumi, acrescentando que os ganhos salariais acima da inflação sucedem um período em que os reajustes ficaram congelados, em meio à pandemia.
Fonte: O Estado de S. Paulo